A Militância Estética

quinta-feira, 5 de novembro de 2009



É muito comum, mesmo dentro do campo do pensamento crítico de esquerda, reduzir o a importância da arte – e da própria cultura, na luta pela transformação concreta da sociedade. Mesmo, tendo como base comum o discurso de que “arte não é mercadoria”, “arte não é apenas diversão”, muitos grupos acabam reduzindo sua produção artística politizada, – na melhor das hipóteses - por uma propaganda política (mal) estetizada. Ou apenas acabam reduzindo toda sua produção cultural em mera panfletagem, ignorando toda potencialidade que uma reflexão estética (critica e materialista) pode trazer para superação da sociedade de Classes.

Foi na década de 1970 que no Brasil se começou, de forma mais intensa, a se pensar formas e maneiras de superar o teatro político pelo entendimento do teatro como uma das formas possíveis de fazer política. Ou seja, a substituir um teatro de propaganda feita para as classes subalternas, por um teatro emancipatório de interesse das Classes Subalternas.

Augusto Boal (com o Teatro do Oprimido) e Bertolt Brecht, (com o Teatro Épico Dialético), por exemplo, nos trazem propostas concretas de uma prática ao mesmo tempo Estética e Política. Práticas que não absorvem o político no artístico, mas também não põe inimizade entre arte e política. Distingue-as, sim, mas como unidade do mesmo movimento em que o ser humano se historiciza e busca reencontrar-se, isto é, busca ser livre.
Não se trata meramente de “colar” qualquer ideologia na obra de arte, mas utilizar a própria obra de arte – no nosso caso, o teatro - para desenvolver uma consciência crítica, sobre a própria obra em si, e principalmente, sobre seus modos de produção – no nosso caso, no chão da sala de ensaio, na busca incansável da superação da divisão trabalho espiritual do trabalho material.


Deste modo, um processo artístico Crítico deve ser incompatível com perspectivas dogmáticas-sectárias. Algumas vezes, a utilização de uma peça teatral, por exemplo, como mera ilustração de conteúdo/conceitos de esquerda possui certo viés dogmático. E é na investigação (teórica e prática, nos campos da estética e da política) constante, que podemos extrapolar os limites do dogmatismo de um lado, e do “sentimentalismo socializante” de outro. E é a esse caráter de pesquisa processual – ao mesmo tempo estética e política; ao mesmo tempo teórica e prática – que chamo de Militância Estética. Uma militância que não visa outra coisa, senão a próprio desmascaramento das ideologias e mecanismos simbólicos do Capital. Que visa expor as contradições do capitalismo e relacioná-las com os atos e as posturas de cada indivíduo, artistas, obras, livros, personagens e públicos. Enfim, uma militância que visa re-ativar, no plano simbólico, a luta de classes.


Gil

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