O Argão para se atear fogo ou qual é o sentido de nosso fazer teatral?

quinta-feira, 16 de julho de 2009


Escrevo aqui algumas reflexões levantadas em nosso ensaio-encontro de hoje, sobre a busca do (e de um) sentido de nosso fazer teatral. Um fazer ligado a uma postura crítica sobre a realidade que nos cerca. Que sentido Há (e se há algum?) em realizar o Teatro que realizamos? Em re-montar Brecht? em Utilizar a Comuna de Paris enquanto Fábula? Um evento aparentemente tão distante tanto histórica, quanto socialmente....?

Em Nossa sociedade atual, será que , o “tempo livre” é de fato assim tão livre? Esse tempo, saturado de produtos culturais, impede que cada qual se diferencie por escolhas próprias, espoliando sua energia vital. E, levando a uma perda generalizada de individuação, engendra rebanhos de seres em permanente e angustiante mal-estar – rebanhos que se aproximam cada vez mais da horda furiosa.


Hoje, o capitalismo avançado quer transformar o próprio individuo em um capital. "O Capital Humano". Assim, somos intimados a gerir esse patrimônio, a buscar sua ininterrupta otimização. Economistas, diretores de recursos humanos, terapeutas de programas de televisão, todos nos ensinam como cuidar de um corpo que já não nos pertence, de uma saúde que já não é nossa, de uma sexualidade que é generalizada. O conceito pretende convencer os trabalhadores assalariados de que cada um deles possui um “capital”: sua própria pessoa. E transforma assim sua existência num empreendimento constante de acúmulo de recursos destinados à valorização no mercado de trabalho. O Afasta de qualquer vinculo com o que é social e coletivo.

Atualmente, Toda cultura – inclusive a arte e o saber – já nasce como mercadoria. É o que Jameson chama de A cultura do dinheiro. Uma enorme fonte de renda e de lucro que se torna vitoriosa pelo poder da ideologia oriunda de Hollywood (Jameson, 2001, pp. 50-55).

Neste contexto, acredito que o (simples...) fato propor um tema para representação teatral, como "A Comuna de Paris" e submete-lo ao debate (estético e ético), já proporciona uma tensionalidade critica dentro do próprio sistema das artes. É re-estabelecer novamente o conflito e as contradições no plano do simbólico. E fazer lembrar concretamente, que a história na pára. Mesmo, quando todos nos querem fazer acreditar que sim.

"Uma questão importante é : Para quem interessa fazer arte política hoje?
Acredito que a pratica teatral não tem sentido quando é feito para abastecer o mercado espiritural das elites. Historicamente, os grandes artistas foram aqueles que subverteram essa destinação, aqueles que inventaram imagens menos conformadas do mundo, que dialogaram com as contradições da época, sem reproduzir a visão de mundo dos poderosos. O potencial politizante da arte depende muito de sua capacidade de desmercantilização.


O importante é que sempre modificamos o sentido da forma artística em razão dos assuntos e do nosso momento histórico. o Conflito é sermpre o Tema. É esse o material que devemos trabalhar: as contradições. E o movimento das contradições no teatro é tarefa coletiva. O potencial de desalienação de uma peça só se realiza coletivamente. Só como instrumento desalienante o teatro pode nos fazer experimentar uma vida mais viva do que essa criada pelas imagens dominantes no capitalismo." (Sergio de carvalho, Cia do Latão)"


As conquistas históricas da classe trabalhadora projetam sombra e luz ao proscênio liberal-burguês. É ocupar - e profanar -um espaço onde as imagens dominantes das classes hegemonicas, sempre utilizaram como irradiação de seu pensamento e seu modo de vida.


"Os arranjostemáticos e/ou as soluções estéticas não definem caráter crítico e transformador à arte teatral. O processo de trabalho e as relações de produção artística devem elas mesmas ser trans-formadas in processus. Um longo caminho de dramaturgos, encenadores etc. de alguma forma identificados com a causa histórica da transição socialista tomaram em suas mãos não só a tarefa de encenar peças mas alterar a produção artística. Apoiando-se nas conquistas legadas pelos processos revolucionários russo e alemão – solo histórico sobre o qual se erigiram as propostas de Stanislavsky e Brecht –, Boal irá propor a radicalização de suas premissas. Contudo, para compreender o nexo nacional-internacional, faz-se preciso reconstruí-lo a um só tempo histórica e criticamente." (Ante Projeto GTEPUEL).


Para mim há sentido. Claro e preciso.

Gil .

4 comentários:

Anônimo,  17 de julho de 2009 às 11:54  

Quando teve que se haver com a indústria cultural na figura docinema, Brecht se deu conta do atraso generalizado em que se encontra-va a crítica cultural (mesmo a de esquerda) em relação ao desenvolvi-mento da produção propriamente dita. Para ir direto ao ponto: a indus-trialização de todas as esferas da produção ideológica já era um fato noinício dos anos trinta do século XX e, no entanto, produtores e críticos de arte nem sequer se davam conta da necessidade de incorporar este fato— a transformação de toda a cultura, e portanto da arte, em mercadoria— para dar conta de todas as mudanças de função já ocorridas e, criti-cando-as, apresentar alternativas conseqüentes.Entre as principais conclusões do trabalho em que Brecht trata do assunto , encontramos as seguintes: no sistema capitalista a obra de arte é concebida para ser vendida (como qualquer outra mercadoria) e essa venda tem um novo papel de extrema importância no sistema das rela-ções humanas. O ambíguo conceito antigo de obra de arte não se aplica mais ao objeto criado depois da sua transformação em mercadoria; por isso, artistas e críticos devem, com prudência e delicadeza, mas sem te-mor, livrar-se daquele conceito, se de fato quiserem liquidar as funçõesque este novo objeto agora desempenha. É preciso atravessar esta fase sem subterfúgios. A fase da obra-mercadoria deixa para trás a sua antiga especificidade e, com isso, imprime à obra uma outra que passa a serlhe inerente.
Montar textos criticos como a "Comuna" Ganha um sentido muito preciso. Sua simples representação consciente de um Grupo como VOsso já marca como disse Gil, uma roputura - ou uma tentaiva de roputura com as fortmas dominantes das classes exploradoras.
Vamos Lá....
Karine - São Paulo SP

lucio 20 de julho de 2009 às 20:43  

Fazer uma peça que denuncia a burguesia e cobrar 20 reais de entrada. Apresentar gratuitamente, nas praças, peças conservadoras para o povo. São essas as alternativas que vemos quando se tenta fazer arte transformadora: ou fazer uma excelente crítica social, sofisticada, só que restrita à elite, ou achar que qualquer produto artístico apresentado de graça pode ter efeito emancipador.
é hora de encenar a resistencia

Hugo "Camarada" 20 de julho de 2009 às 20:48  

No espaço do teatro, as pessoas se defrontam com a ambigüidade que existe entre a idéia de liberdade em confronto às inúmeras coerções que sofrem devido às relações capitalistas de produção, bem como se dão conta de contradições mais sofisticadas “entre discurso e ação, entre intenção e resultado da ação, entre desejo inconsciente e desejo pautado pela mercantilização da vida.
Reativar a percepção das contradições que pautam a vida sob o capitalismo”, este é o sentido.

Evoé Baco 20 de julho de 2009 às 20:49  

hafff...que saco.....
Evoé baco

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