OS GALHOS DA ÁRVORE

terça-feira, 31 de março de 2009


A arte vem sendo utilizada por muitos, como instrumento de manutenção da realidade opressora tal como ela é. E, ao contrario disso, os grupos da Fábrica de Teatro do Oprimido vêem desenvolvendo pesquisas onde, a partir de B. Brecht, buscam evidenciar as contradições da sociedade, e de Augusto Boal, buscar uma maior interação entre atores e espec-atores através do Teatro-Fórum.

Não podemos desprezar o enorme avanço que a quebra da tão sagrada quarta parede foi para a historia do teatro. O primeiro contato que tive com o Teatro do Oprimido foi com o Teatro-Fórum. Quando vi, me encantei. E lá fui eu estudar. Fazíamos um grupo de estudos todas as terças para discutir os jogos, as categorias, a árvore do Teatro do Oprimido...
A árvore? Teatro-Fórum, Teatro-Imagem, Teatro-Legislativo, Arco-íris do desejo e Teatro Jornal. Nossa... quantos galhos. Diria até que, nos limitar ao Teatro fórum seria um pecado mortal.

Alem disso, chega uma hora que você para e pensa: se formos analisar as situações de opressões que acontecem no dia - a dia com o individuo, o Teatro fórum cumpre muito bem com a sua função, mais e se eu for pensar em termos de uma estrutura social? E se a minha intenção for: não discutir a realidade da Maria, do João, ou melhor, de um oprimido que resolve a sua situação e continua a viver em uma sociedade opressora, mais sim mudar toda uma classe oprimida?
Ai é que surge a idéia de fazermos o teatro jornal, uma forma de discutir não uma situação opressora, mais sim uma estrutura opressora, evidenciando as opressões e contradições da sociedade em que vivemos.


Podemos dizer então que entramos em uma luta, onde por um lado temos uma camada que utiliza dessa arma tão poderosa que é o teatro como um instrumento opressor, manipulando as massas e criando o senso comum, e de outro nós, utilizando dos próprios meios de manipulação para mostrar as entrelinhas, o não dito, expondo o nosso ponto de vista e tentando mostrar uma realidade menos mistificada, utilizando de muitos recursos Brechtianos como o distanciamento e a narração pra mostrar uma realidade menos vedada possível.

O dialogo Brecht/ Boal vem sendo muito positivo. Sinto que não só eu, mais todas as pessoas que estão passando por este processo vem crescendo muito, desde a estética até a própria compreensão do que seja o Teatro Épico e o Teatro do Oprimido. E a intenção é não parar. Os grupos vem se mostrando entusiasmados para cada vez mais estudar, experimentar, descobrirem suas próprias características e é claro, lutar.



Ana Carolina Silva
Multiplicadora de TO
Atriz Social do Grupo EncenAção

6 comentários:

Anônimo,  31 de março de 2009 às 17:23  

Parece-me que estão num caminho muito interessante. Estamos tentanto este diálogo também. Mas existem alguns impasses. gostaria de trocar mais figurinhas com o Grupo
Marcelo TH.
Curitiba PR

Anônimo,  31 de março de 2009 às 20:55  

Tanto Brecht, quanto Boal tem um papel transformador no Teatro Mundial. Buscar um Diálogo entre os dois não é novo. Mas sem dúvida é mais uma contribuição que está nascendo. Continuem...

Alissom (ator)
Floripa - SC

Anônimo,  31 de março de 2009 às 20:58  

Para mim...a Arte deve servir somente à Arte.
Teatro não é política e não deve ser confundida com política: "cada um no seu quadrado)

Evoé Baco

Anônimo,  1 de abril de 2009 às 12:21  

sim, concordo com os colegas Marcelo, pq realmente existem alguns impasses..e Alissom...a busca desde Diálogo nao é nova. Assim como nao é nova a concepçao do colega Evoé. Imagina, quiseram separar o teatro da política. Mas o que é Política? Um ser material que podemos afastá-la quando nao a queremos por perto? Nao podemos dizer assim: "Ei política, chegue mais, pq agora precisamos falar contigo!".Ela está por aí, olhando nao se percebe nada, mas tente ver...ela irá se apresentar a vc. O Teatro que fazemos nao é panfletagem, é Teatro de qualidade (estética, artístico acima de tudo) que visa uma reflexao política-social de determinadas situaçoes que nao se separam de um Todo. Acredito que minha amiga Carol estava se referindo ao melhor aproveitamento das técnicas de teatro do oprimido e como disse, nao se "limitar" somente ao fórum, justamente pq teatro do oprimido nao é só fórum, é legislativo, é invisível, é imagem , é jornal. Estamos explorando isso. Tanta gente explora gentes, vamos explorar alguma coisa, contra a exploraçao das "gentes".
Nao sei até que ponto cada coisa fica no seu quadrado, e se isso é mesmo possível. Acredito que Só o fato de ter essa visao: "Arte deve servir somente à Arte"...já é uma opçao política. Pensemos nisso.

Desde já valeu pelos comentários.
Vamos trocar figurinhas sim...
bjos

Débora Oliveira.
Multiplicadora de TO.
Atriz Social do grupo Encenaçao.

Ton Joslin 2 de abril de 2009 às 22:20  

Esse texto da nossa querida Ana, é sem duvida um atrativo pra que possamos buscar um dialogo entre Boal e Brecht.
A Fabrica de Teatro do Oprimido sempre teve uma preocupação latente em trazer ao palco os encadiamentos sociais que nos oprimi.
Essa preocupação da Fabrica deve ser estendida pra todas as pessoas que fazem Teatro do Oprimido, a relação individuo/sociedade é factuosa e essencial para proporcionar uma reflexão realmente transformadora.

Ao amigo Évoe Baco, digo que é impossivel separar a politica do teatro, a sua composição ja é estritamente politica. Para maior esclarecimento Boal fala sobre o assunto no livro "Teatro do Oprimido e outras Poeticas Politicas"

Mto Obrigado
Ton Joslin

Anônimo,  8 de abril de 2009 às 16:47  

É um Texto Valoroso Sem dúvida.
Levanta questões que muitos artístas "gente de Teatro" tem verdadeiro pavor de Levantar.
Teatro é arma de luta ideólogica. Do Mercado principalmente. Vende. Aliena Constrói Valores.
Se o Mercado pode utilizar o Teatro como mais uma ferramenta de alienação, por que não se pode utilizá-lo para transformação?
É isso ai Galera do Encenação...discutir é preciso.

Paulo Sérgio - Cahoeira BA

Postar um comentário

  © Blogger template On The Road by Ourblogtemplates.com 2009

Back to TOP