Quem pesquisa, encontra conexão.

sexta-feira, 27 de março de 2009


O grupo Encenação de Teatro do Oprimido está atualmente: “metendo o bedelho” no Teatro Épico. É uma pesquisa recente para o grupo, e soou para nós como um estímulo para continuar o trabalho enquanto grupo coeso e mais responsável (por falta de expressão melhor). Aproveitando a “deixa” de nossa última montagem O ensaio sobre o papel, estamos nos aprofundando e ampliando nosso conhecimento através da análise das contribuições do Teatro Épico em relação ao Teatro do Oprimido.

Bom, pensando nisso, tente acompanhar este texto. Pode não estar tão claro, mas é uma tentativa de mostrar como está sendo este processo, essa nova experiência, nossas reflexões, “afirmações, negações e sínteses”. Continuando... Observem o exemplo.

Como dizer para um trabalhador que ele está sendo explorado?
Para ele, sua função dentro de uma fábrica é “importante”, porque para produzir uma mercadoria é necessária sua mão de obra (barata), sua força de trabalho (força produtiva que gera o valor da mercadoria). Assim como é importante à existência de toda uma rede de comércio e consumo (compra e venda), para que possa obter o sustento mínimo de sua família. Em sua mente é normal trabalhar oito horas produzindo um produto que não conhece em sua totalidade e que não terá condições de adquirir com seu salário.
Podemos pensar: “ele não compreende sua realidade, ele é um alienado”. É óbvio que ele não entende por que está na “pindaíba”, pois não é permitido que entenda. É conveniente para o patrão que o empregado não se preocupe com questões políticas, ou públicas. Tira-se do trabalhador os meios de produção (material e intelectual), incita-o ilusoriamente ao livre comércio, à igualdade de concorrência, à liberdade de ação. Porém qual a liberdade de ação que possui o trabalhador? A de trabalhar incessantemente para ganhar no fim do mês uma quantia irrisória que mal paga sua necessidades mínimas e como se não bastasse ele ainda é induzido a consumir o produto de uma superprodução, criando um vínculo complexo com “todos” os patrões (os donos dos meios de produção).
O teatro é em suma um instrumento utilizado tanto para que o trabalhador possa conhecer sua situação histórica, social e política, e pode também sem nenhuma "crise" ser usado para mistificar, esconder, camuflar todas as misérias produzidas pelas relações sociais de produção Capitalista. A função do Teatro Épico não é reduzir as relações humanas à simples esfera individual e sim deixar que essas relações se estendam à esfera pública, desmistificar, desvendar a história, fazer com que aquele trabalhador citado acima, conheça sua história de um ponto de vista crítico e que a partir disso recupere sua força criativa e transformadora.

Brecht, quando escrevia suas peças estava pensando no contexto histórico em que viveu: A Primeira e a Segunda Guerra Mundial. Mas o pacote não estaria completo sem as teses socialistas, comunistas e tantos outros “ismos” que existiam. Por fim, optou pela concepção Materialista Histórica e Dialética para o seu fazer teatral. Já existia o Teatro épico, mas era mal visto pelos moldes da época, Brecht apenas deu sua contribuição para o teatro dando uma forma linear, para que os assuntos que eram discutidos dentro do drama tivessem uma maneira própria e mais eficaz de atingir seus objetivos.

Para que assuntos que tem relevância social não sejam tratados superficialmente, dialeticamente, através do teatro evidenciam-se as contradições de determinadas situações. Buscando entender as mediações para que seja possível a compreensão da Totalidade. Traduzindo; na época de Brecht, o teatro era um recurso usado pela Burguesia para “esconder” as intempéries das Guerras, para confirmação da realidade. Para que a compreensão dos problemas de interesse público fosse acessível a todas as Classes, criou-se um “método” que exagerando o cotidiano permitia um outro tipo de emoção para o público, a emoção de ver realmente através da racionalidade o que estava implícito dentro de suas relações sociais. Percebiam quais eram os fatos históricos que influenciavam o presente e que por ter esta característica “relativa”, mutável, despertava o expectador para a mudança. Este é o princípio do distanciamento, muito basicamente.

E que relação tem isso tudo com o Teatro do Oprimido? Ainda estamos descobrindo, é arriscado afirmar já que não existe verdade que seja absoluta. Mas já podemos perceber que este diálogo não é estéril, que pode contribuir para que os problemas pessoais levantados nos grupos não sejam discutidos de forma simplista, que não sejam reduzidos a qualquer drama que precise de “ibope” pra ser analisado pelos expect-atores.

Enfim, continuaremos nossa pesquisa, encontraremos nosso limite e veremos até onde “alcança nosso passo”.





Débora Oliveira.




Sobre a imagem: Escolhi a imagem da Barbie velha, justamente porque ela "nao envelhece". Nesta foto, porém ela está fisicamente velha, ninguém vende barbie velha, entendeu?rsrsr

Aaahh! Desculpem pelos termos um tanto quanto marxistas.^^


Até a próxima!

Comentem se quiserem.

5 comentários:

Anônimo,  27 de março de 2009 às 20:19  

Acredito que a coisa é muito mais séria (em relação a contrução do espetáculo de Teatro-Fórum), por que nos processos que andei acompanhando em Oficinas de Multiplicação de Teatro do OPrimido, notei que nas cenas apresentadas, na grande maioria, foi retirado toda conexão com o Universo social do personagem protagonista. O Protagonista (oprimido) era desconectado de seu meio social. Esta perspectiva pode até potencializar o débate sobre a opressão representada na cena, mas a conexão com o todo social, passa a ser responsabilidade do Coringa. E se esse Coringa não conseguir realizar esta leitura? Como propor uma ação direta sem uma leitura conjutural do problema? questões...
parabens pelo trabalho do GRupo e pelo debate proposto?

Arnaldo Souto
Sociólogo Multiplicador do TO.
Portugal

FTO 27 de março de 2009 às 21:18  

Gostei do Texto Débora.
Mas levanto uma questão: Não podemos esquecer que o Prório Boal passou por toda formulação do Teatro Épico no inicio da Formulação Teórica do TO e que superou essa formulação com Teatro - Fórum. A questão é a seguinte: o que pretendemos "resgatar" do Teatro Épico, incorporar ao TO que realizamos, mas sem modificarmos a centralidade da Metodologia do TO, o TEATRO ESSENCIAL? Ou seja, como Dilaogar com o Teatro Èpico, sem que o TO deixe de ser TO?

P.S : Segundo o Baktin a palavra é signo ideologico por natureza e traz em seu significado uma demarcação de nosso campo polìtico e Ideológico. Assim, uma coisa é falar de TO no campo, por exemplo, do Terceiro Setor, como um fator de luta pela conquista cidadania. Outra, coisa, - e bem diferente - é falar do TO, no campo de uma Luta Popular, objetivando a Transformação Social, num aotica de roptura com esse sistema social que vivemos. sacou A diferença? Não é uma questão de Sinônimos...(rsrs)> Por tanto, não peça desculpas pelos termos utilizados. SE estes termos expressam sua posição política. Devem ser utilizados mesmo...mesmo que encomodem ou pareçam "anacrônicos".
GIL

Anônimo,  3 de abril de 2009 às 21:14  

Re - Afirmo aqui. O objetivo do Teatro do Oprimido é uma transformação real. E não apenas o seu reconhecimento. Não é só preciso saber o que fazer. É preciso fazer. Sabemos que é preciso superar o modo de produção capitalista. Mas como romper com o elo de opressões que ele implementa? Onde devemos romper com a cadeia de opressões? No dia-a dia. Nas relações sociais mais elementares. No seio da familia, da Escola, do ambiente de trabalho, etc. Essa é a Revolução. Começa de baixo para cima. Se pensarmos sempre em termos de classe, os problemas urgentes não serão resolvidos nunca. Ação direta. Concreta. O teatro Épico, nos faz conhecer a Realidade estrutural sim. Mas e ai? O TO pensa a ação concreta.
P.s : Obrigado por abrir este espaço de participação

Laís - Arte Educadora Multiplicadora de TO
Montes Claros - MG

Anônimo,  20 de abril de 2009 às 21:58  

Seu texto é muito bem constrído
parabens

Caetano 20 de abril de 2009 às 22:09  

e Repito aqui ( que o texto que quero criticar abertamente)

Sou ARTISTA e não EDUCADOR, minha função é outra; deveríamos passar ao largo da catequisação da luta de classes que este governo inflama.
Que as EXCEÇÕES destes casos possam produzir mais e PENSAR este País!
Poucas vezes encontramos um diálogo aberto e honesto nos espetáculos apresentados em São Paulo, comunicar não é mais a razão de estrear um espetáculo, tudo se resume a um sindicalismo frouxo e burro. A obra já não fala por si (que me perdoe Adorno), é preciso fazer um ‘movimento’ (que me perdoe Caetano Veloso)! Uma geração inteira de artistas que começou a respirar após a ditadura ainda está bastante imatura para lidar com certos valores de liberdade e capitalismo (que me perdoe Marx).
Desconhecem princípios sobre a ética (que me perdoe Espinosa) e banalizaram o mal (sorry Hannah Arendt).
Nós artistas de uma hora para outra nos transformamos todos numa espécie de ‘ativistas humanitários-culturais’! Não basta a ‘nossa causa’ é preciso ter “contrapartida social” para isso e aquilo e agora também nos exigem “medidas preventivas contra o impacto ambiental negativo”… que ‘po*&%$%a’ é isso? Tudo agora tem de ser carbon free, sustentável, ecológico, etc.
E eu digo: “é só uma pecinha de teatro senhor!”, “é apenas uma ópera madame!”, “é só um showzinho presidente!”

Qual o papel do Artista na burocracia contemporânea deste rosário sem fim ‘pseudo politicamente correto’? Produzir/Poluir?
Tá certo também que parte da ‘classe’ exigiu seu reconhecimento depois de palestras, encontros e ’sufrágios democráticos’ (contando os braços erguidos ‘a favor’) num movimento batizado de “Arte contra a Barbárie” (!), resultando dentre outras aberrações ‘excludentes’ num tal “Fomento para as Artes”.
É isso então, lutaram contra a ‘barbárie’ (seria o ‘capitalismo do teatrão’), ganharam o ‘fomento’ e hoje são todos ‘ativistas’ de plantão defendendo o seu espaço (físico) alugado produzindo pouco para pouquíssimos (às vezes até muito para ‘muitíssimos’, mas não faz diferença), fazendo muito barulho para não largarem o ‘osso fomentado’.
Viraram ‘educadores’, plantaram sementes (paúba?), reciclaram seus programas (ou ‘pogrom/погром’) em troca de quê?

Nem prêmios nos credenciam mais. Um Shell (poluidora?) desacreditado vale hoje muito menos do que o antigo Molière (passagem para Paris ida e volta sem nenhum dinheiro!). Prêmios também viraram ‘contrapartida social’ das empresas que usam artistas como mico de circo: Prêmio Bravo, Contigo, Coca-Cola, etc… nenhum deles trazem público e muito menos prestígio.
A indiferença é triste e gritante.


O resultado do que se busca é o contrário, o teatro brasileiro está fomentando o emburrecimento do seu público.

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